domingo, 25 de setembro de 2011

A técnica Pomodoro - nova aposta para me organizar!

A escola onde sou professora de português recebe semanalmente várias revistas: Época, Veja, Galileu, revistas científicas, periódicos, etc. Ao que parece, minha sanha quase doentia por livros e revistas já se mostra visível aos demais presentes, pois que já há algumas semanas, a gentil diretora vem pessoalmente me avisar da chegada delas, e recentemente, passou mesmo a me trazê-las, ainda embrulhadinhas. Huuuummm.

Na sexta-feira, ela chegou na sala dos professores e me entregou um exemplar da Galileu. Uma das reportagens falava sobre a técnica Pomodoro. Eu nunca tinha ouvido a palavra num contexto diferente de "marca de molho de tomate" (ruim, aliás). E fiquei surpresa de a técnica já ser antiga, criada em 1980. Pois que me pareceu uma novidade, um modismo na esteira da busca por um melhor gerenciamento do tempo por parte do ultra-super-mega-atarefado homem moderno. E se for mulher, admitamos, a coisa piora, e MUITO.

    Afinal, a maioria de nós encontra-se nesta situação: ter de trabalhar fora, cuidar da casa e de si mesma.


 Mas afinal, que é o método Pomodoro, que tanto interessou uma pessoa como eu, avessa à fórmulas, planilhas, soluções pragmáticas?

O método foi criado pelo italiano Francesco Cirillo no ano de 1980. Cirillo estava na faculdade e, normal, vivia se enrolando com prazos e etc. Aborrecia-se porque malgrado tivesse mil coisas para fazer, distraía-se com algo e acabava não realizando tudo de maneira satisfatória (familiar...rs). Certo dia, pensando em como era patético passar horas estudando sem aprender nada e sempre se atrapalhar nos afazeres, ele deixou o olhar cair por sobre um timer de cozinha em formato de tomate ("pomodoro", em italiano) e decidiu usar o troço como cronômetro de suas próprias atividades. Pressão auto-imposta, por assim dizer. O reloginho marcava um ciclo de 30 minutos, e o rapaz dividiu em 25 de concentração e 5 de descanso "para levantar, tomar uma água, ir ao banheiro..."


                                                             O timer. Bonitinho, não?


Seria um modo de se obter o melhor do gerenciamento de tempo. Esse método poderia nos ajudar a transformar o tempo em um aliado, "alcançando o que queremos fazer e 'mensurando' o aperfeiçoamento contínuo na maneira como executamos essas atividades."

"A técnica consiste em:
1- escolher uma tarefa - a mesma deve constar de uma LISTA que você tenha, de coisas a fazer;
2- marcar 25 minutos em um timer (o "Pomodoro", timer de cozinha em forma de tomate. Nem sabia que existia isso.)
3- trabalhar concentrado na tarefa até que o timer toque;
4- fazer uma pequena pausa (5 minutos são suficientes, porém a cada 4 tempos de 25 minutos, a pausa deve ser mais longa, de 15 minutos a meia hora.)"
5- Realizada a tarefa, marcar na folha de tarefas, registrando o número de pomodoros necessários para tal.
6- Não esqueça de eleger primeiramente as PRIORITÁRIAS, as URGENTES.

Mais informações poderão ser obtidas aqui, ó ó: http://br.pomodorotechnique.com/

Uma coisa importante: devem ser 25 minutos de puro trabalho. "Eles não podem ser interrompidos.(...)Se tiver que atender um telefonema, cancele o Pomodoro e recomece um novo na sequência." E isso não deve ser usado no tempo livre que todo filho de Deus (supostamente) tem durante a semana.

Não sou nada metódica, e em nada tal método deveria me interessar. Entretanto, já estou cansada de me enrolar, me perder, esquecer de tudo a toda hora e sacrificar domingos para realizar coisas que poderiam ter sido feitas durante a semana, SE eu fosse mais focada, SE eu gastasse menos tempo na net, SE eu me distraisse menos, SE eu fosse mais organizada... na minha idade, de boa, perdeu a graça. Estou disposta a tentar. Situações desesperadas, medidas desesperadas. Falei sobre o método para uma colega de trabalho e ela riu, achando-o ridículo. Eu também achei. Mas minha vida também está ridícula de enrolada, de atarefada... e olha que nem trabalho 8 horas por dia.

Então o que acontece?

Acontece que não é que eu trabalhe muito, eu trabalho EM muitas coisas coisas diferentes E em lugares diferentes. Sou "professor camelô": onde tiver oportunidade, pra lá vou. Não é fácil, não. Mas é o que tem que ser, até pintar coisa melhor, mais estável, mais rentável. Que, (podem rir, podem rir) ainda espero que seja na área da educação, que é do que gosto de fazer. Ainda tenho que cuidar da casa. De mim, tanto do físico, para não quebrar espelhos por aí, quanto de minha formação.

 Então, quem sabe, o método Pomodoro possa salvar uma pessoa que tem que preparar aulas de Português, preparar aulas de Japonês - tanto para as 3 turmas do curso quanto para 5 alunos particulares espalhados pela zona sul e oeste do Rio - aulas de desenho para 2 alunos, dona de casa, responsável por pagar as contas, fazer compras, que tem que cuidar de duas gatas, que quer continuar a desenhar e terminar sua HQ (que se arrasta por mais de uma década!), publicar seu romance (escrito há 11 anos e revisado no início deste ano...), voltar a escrever, fazendo curso de extensão on line, estudar (japonês "afinal nunca pode parar", didática "sempre é bom, pro trabalho e pra concursos que vêm aí), se preparar para seleção de mestrado, fazer pelo menos 30 minutos no aparelho elíptico que comprou por mil reais e hoje é cabide de bolsas no quarto, que tem que cuidar da aparência para seu próprio bem estar e por uma apresentação decente perante o mundo (e nós mulheres sabemos que, não sendo "uma agraciada pela natureza" ISSO DEMANDA TEMPO...)...


                     Troque o bebê por duas gatinhas e voilá... it's my life. Ainda que faltem braços aí.



Eu só acho que 25 minutos é pouco tempo. Poderiam ser 30... mas se o timer for de 30 minutos mesmo, começarei obedecendo a cronometragem sugerida. Ai, que vergonha, me sinto meio bocó. Mas é como disse, estou cansada de perder dias livres, de não ter tempo para os amigos, ou até pra mim. Tem dias que isso me deixa realmente exasperada, de mau humor. Tem dias que me deixa triste e angustiada. Não sei o que é pior. Minha sorte é que, na maior parte do tempo, eu não perco o bom humor. Isso não. Nem que seja pra rir de mim mesma.

Aliás, pesquisando sobre isso, também vi umas dicas interessantes, sobre como se desligar um pouco também das redes sociais. Isso eu acho que procede, e muito: quantas vezes me sentei aqui para, sei lá, responder um email, daí vi algo sobre Facebook, fui lá ver... e adeus, facinho facinho, uma hora de uma manhã de 4 horas de que disponho para resolver a vida. Parei. Alguns já devem ter notado que ando sumida do Face. A tendência, se eu tomar vergonha na cara, é sumir ainda mais! Outra coisa que eu faço direto: ligar o computador assim que acordar. Procurar não fazer mais isso, a menos que tenha extremo autocontrole de conferir APENAS emails e ver se tem algo urgente ou modificando o que se planejava para o dia. Não será difícil, eu me adapto facilmente às coisas. Difícil é começar a fazê-las. Como o é com todo mundo, acho.

Então fico por aqui, pois como várias coisas se acumularam durante a semana, este domingo foi reservado para resolvê-las... quem sabe o próximo não seja diferente? Voltarei para comentar a validade da técnica.

Ah, e claro: pesquisar onde diabos eu compro um timer desses. E queria de tomatinho mesmo!  Porque já vi de abacaxi, de bichinho, de cozinheiro bigodudo (!), mas nisso sou metódica: QUERO UM TIMER EM FORMA DE TOMATE!

domingo, 4 de setembro de 2011

Roda de leitura 1 - "A dança dos Ossos" de Bernardo Guimarães (Ensino médio)

Muito se fala do desinteresse total e absoluto dos alunos pela leitura, e isso não é um exagero. Pode ser uma generalização, mas não um exagero. E afinal como é que um professor de português vai "trabalhar leitura em sala de aula" (que expressão estranha... mas é a utilizada O.o) nessas condições? Bom, não tenho a MENOOOOR intenção de me posicionar como "aquela que encontrou a solução!", tampouco a "novata que mal chegou e resolveu o problema há muito presente" (afinal, mal tenho dois anos de magistério...). Também não se trata de pesquisa alguma, nem nada científico. Ainda não fiz mestrado nem me candidatei a tal - estou fazendo um curso à distância pelo CECIERJ em redação acadêmica, a fim de entender melhor de como escrever de maneira objetiva, para aí sim, tentar uma pós. Vou apenas relatar alguns procedimentos realizados em sala de aula, na rede estadual de ensino, que PARA MIM, deram certo. Não tenho a intenção de sugerir nada disso a alguém, e por certo, muito do que fiz/faço nem mesmo é novidade para alguns  colegas já calejados. Bem, chega de enrolar e vamos aos fatos.

Quando falo sobre "leitura", eu percebo que o aluno a associa a algo longe de sua realidade; ele pensa LEITURA=LIVROS GRANDES, CAROS, DIFÍCEIS. Clássicos, coisa de "intelectual". Certo dia, ouvi de uma aluna, que viu uma revista Época na minha mesa (ÉPOCA!!! obs.: era da escola ^^) "ai, professora, acho tão bonito gente que lê essas revistas, época, Veja... coisa de intelectual, inteligente" (!!!) E ele também não pensa no português como algo SEU, ferramenta de que se serve TODOS os dias. É troço difícil, distante, fora de seu mundo. Nunca vai dominá-lo, então melhor não mexer com ele. E, claro, além de tudo, chato.

Numa era tão imediatista como a em que vivemos, é complicado oferecer algo que não proporciona prazer imediato. Sim, pois que a leitura só causa prazer no final de toda uma etapa que deve ser vencida, etapa esta que vem por eles sendo evitada/negada por toda uma vida.

Bem, costumo ver o termo "rodas de leitura" mais associado ao ensino fundamental. Mas resolvi tentar numa série de segundo ano do ensino médio na escola estadual onde leciono. Estávamos vendo "prosa romântica", e esbarramos em Bernardo Guimarães, cujo trabalho mais famoso é "A escrava Isaura". Não tendo tempo para lermos um romance inteiro dele, resolvi mostrar um de seus contos. Claro que nessa hora, não sei quanto aos outros professores, mas não consigo ser muito imparcial... acabo escolhendo algo de que gosto. Isso não é tão difícil, visto que gosto de quase tudo, eu, que sou aquela pessoa que gosta de ler até bula de remédio. Mas poxa, é preciso passar ENTUSIASMO na leitura para o aluno ver que aquilo pode ser legal... é mais fácil fazer isso quando se gosta, né? E sai bem mais naturalmente... não se enganem, os alunos PERCEBEM quando a gente não curte aquilo, rs. E vai a gente dizer que ele tem que gostar ou fazer, hehe... enfim, escolhi o conto "A dança dos ossos". Texto gostoso e fluido, liguagem acessível, mesmo com mais de um século, fala sobe uma tumba de onde os ossos saem para dançar, enquanto a alma do defunto fica na sepultura. É a "maldição de Joaquim Paulista"...

Pedi que me ajudassem a arrumar cadeiras em círculo, nos fundos da sala. Até então, claro que foi um "fuzuê". Tinha até uma menina sambando, sabe lá Deus por quê. Doidinhos.

Com certo custo, não nego, fiz meus queridos sentarem nas cadeiras e fui entregando a cada um deles o conto xerocado. Alguns já faziam caretas, outros "ah, eu não vou ler não, professora!", "ah, não quero não, professora!" (!) e eu neeeem aí. Quando terminei de entregar, uma menina quase gritou:
- Professora, cê não vai mandar a gente ler não, né, pelo amor de Deus! Odeio ler em voz alta, aliás, ODEIO LER!"
- Olha só, eu não vou obrigar ninguém a ler em voz alta, não. - disse, muito calma.
- NÃÃÃÃÃOO?
- Não, não. Vamos fazer o seguinte. EU vou começar. Depois, eu deixo QUEM QUISER continuar. Certo?
- Ah, que bom - uma menina riu, e chegou a colocar o texto de lado e cruzar as pernas, como se dissesse "então nem vou olhar essa merda.".
- Beleza, então vamos lá.
Comecei a ler, com voz afetada de locutora de programa de terror, fazendo caras e bocas, como (dizem) costumo fazer:

"A noite, límpida e calma, tinha sucedido a uma tarde de pavorosa tormenta,
nas profundas e vastas florestas que bordam as margens do Parnaíba, nos limites
entre as províncias de Minas e de Goiás.
Eu viajava por esses lugares..."

(A quem interessar: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000038.pdf  é delicioso!)

Após a decrição, quando enfim os personagens iam falar, perguntei quem queria continuar. A princípio, ninguém, como era de se esperar. Um pouco de insistência e uma voluntária se pronunciou. Depois outra, depois outro...virei-me para uma que não havia lido:

- Quer continuar, A.?

- Não, professora, eu leio muito mal.

- Bah, que nada. Se não treinar um pouquinho, vai continuar lendo mal. Quem vai emagrecer sem fazer exercício? Você emagreceu bastante, não foi?


- Ai, professora, brigada... fico tão feliz quado me dizem isso!

- Então retribui lendo aí - o pessoal riu e ela pareceu ficar mais descontraída. E leu. Não a corrigi salvo nas palavras que poderiam comprometer o entendimento do texto. Eu havia alertado sobre a presença de algumas palavras desconhecidas, mas que seriam entendidas pelo contexto (depois, confirmei isso verificando as palavras por eles marcadas. A grande maioria havia SIM, sido entendida).

Notei com alegria que P., a menina que havia largado o texto numa cadeira ao seu lado, agora o tinha nas mãos, e acompanhava com interesse, chegando a ficar curvada. O "causo" misterioso relatado pelo barqueiro foi acompanhado por risadinhas, "credo" e "cruzes" baixinhos, "que horror", "eu sairia correndo, tá doido!" "eu já estaria morto só de ver isso!", ou seja, estava causando REAÇÃO.

Os leitores foram se revezando, não com muita frequência, "quebrando a narrativa nos momentos certos", como num pequeno comercial. Uma coisa que me marcou muito foi que qundo eu disse "Muito obrigada, fulano", ANTES DE PERGUNTAR QUEM QUERIA CONTINUAR, a aluna A., que se recusou veementemente a ler de início, continuou, resoluta. Houve mesmo uma pessoa que disse "eu quero continuar, mas acho que ninguém quer que eu leia, por eu ler mal demais". Falei " 'bora' com isso, deixa de estrelismo" eles riram e ela também, e foi em frente. Talvez alguém dissesse que eu agia levianamente, com essas piadinhas infames e não com palavras de real motivação... comigo o bom humor costuma funcionar melhor nessas horas tensas - eu tenho sim, meus momentos de "passar mensagens motivacionais", contudo naquela hora "não podia deixar a peteca cair", não podia deixar o entusiasmo esfriar... tinha que ser rápido e rasteiro. Aqueles jovens, que adooooram apregoar que não gostam de ler, estavam vibrando, tensos, querendo saber o que iria acontecer. E ESTAVAM LENDO. Mesmo os que disseram que não o faria. Houve mesmo um que disse que era a PRIMEIRA VEZ que fazia leitura em voz alta (!)

                                                   Este foi o trecho ao qual eles mais reagiram


Assim prosseguiu (teve uma hora que a luz piscou, foi aquele alvoroço!) até que...
- Ué... - disse um.
- Professora, cadê o final????
- É, cadêee??? Não terminou! Ele disse que ia contar a história do Joaquim Paulista, explicar a maldição, mas acabaram as "folhas"!
- É - disse eu.
-????....
- Eu só trouxe a metade o conto. Terminaremos de ler na próxima aula.
- PROFESSORA, NÃO FAZ ISSO COM A GENTE!
Houve gritinhos de "sacanagem, quero saber o resto!", "isso é maldade", dentre outros.
- Lembram quando no início dessa matéria, romantismo em prosa, a gente viu sobre os "folhetins"? Que eram mesmo? - Perguntei, já me levantando e fingindo que não ligava pro chororô deles.
- Eram aquelas histórias que saíam nos jornais antigamente, que continuavam só no outro dia, deixando todo mundo querendo saber o que iria acontecer - respondeu um.
- Tipo as "novelas de hoje", os "coitados" não tinham televisão, então... - disse outra.
- Pois então - disse eu - vocês vão saber agora como aquelas pessoas se sentiam, né?
"Ai, professora, maldade", cheguei a ouvir. Alguém foi além e disse, quase em provocação
- É ruim de esperar, EU VOU PROCURAR NA INTERNET!

Hum. Um gostinho de "missão cumprida" me invadiu naquele momento.


                                                                  Valeu, carinha.