domingo, 25 de setembro de 2011

A técnica Pomodoro - nova aposta para me organizar!

A escola onde sou professora de português recebe semanalmente várias revistas: Época, Veja, Galileu, revistas científicas, periódicos, etc. Ao que parece, minha sanha quase doentia por livros e revistas já se mostra visível aos demais presentes, pois que já há algumas semanas, a gentil diretora vem pessoalmente me avisar da chegada delas, e recentemente, passou mesmo a me trazê-las, ainda embrulhadinhas. Huuuummm.

Na sexta-feira, ela chegou na sala dos professores e me entregou um exemplar da Galileu. Uma das reportagens falava sobre a técnica Pomodoro. Eu nunca tinha ouvido a palavra num contexto diferente de "marca de molho de tomate" (ruim, aliás). E fiquei surpresa de a técnica já ser antiga, criada em 1980. Pois que me pareceu uma novidade, um modismo na esteira da busca por um melhor gerenciamento do tempo por parte do ultra-super-mega-atarefado homem moderno. E se for mulher, admitamos, a coisa piora, e MUITO.

    Afinal, a maioria de nós encontra-se nesta situação: ter de trabalhar fora, cuidar da casa e de si mesma.


 Mas afinal, que é o método Pomodoro, que tanto interessou uma pessoa como eu, avessa à fórmulas, planilhas, soluções pragmáticas?

O método foi criado pelo italiano Francesco Cirillo no ano de 1980. Cirillo estava na faculdade e, normal, vivia se enrolando com prazos e etc. Aborrecia-se porque malgrado tivesse mil coisas para fazer, distraía-se com algo e acabava não realizando tudo de maneira satisfatória (familiar...rs). Certo dia, pensando em como era patético passar horas estudando sem aprender nada e sempre se atrapalhar nos afazeres, ele deixou o olhar cair por sobre um timer de cozinha em formato de tomate ("pomodoro", em italiano) e decidiu usar o troço como cronômetro de suas próprias atividades. Pressão auto-imposta, por assim dizer. O reloginho marcava um ciclo de 30 minutos, e o rapaz dividiu em 25 de concentração e 5 de descanso "para levantar, tomar uma água, ir ao banheiro..."


                                                             O timer. Bonitinho, não?


Seria um modo de se obter o melhor do gerenciamento de tempo. Esse método poderia nos ajudar a transformar o tempo em um aliado, "alcançando o que queremos fazer e 'mensurando' o aperfeiçoamento contínuo na maneira como executamos essas atividades."

"A técnica consiste em:
1- escolher uma tarefa - a mesma deve constar de uma LISTA que você tenha, de coisas a fazer;
2- marcar 25 minutos em um timer (o "Pomodoro", timer de cozinha em forma de tomate. Nem sabia que existia isso.)
3- trabalhar concentrado na tarefa até que o timer toque;
4- fazer uma pequena pausa (5 minutos são suficientes, porém a cada 4 tempos de 25 minutos, a pausa deve ser mais longa, de 15 minutos a meia hora.)"
5- Realizada a tarefa, marcar na folha de tarefas, registrando o número de pomodoros necessários para tal.
6- Não esqueça de eleger primeiramente as PRIORITÁRIAS, as URGENTES.

Mais informações poderão ser obtidas aqui, ó ó: http://br.pomodorotechnique.com/

Uma coisa importante: devem ser 25 minutos de puro trabalho. "Eles não podem ser interrompidos.(...)Se tiver que atender um telefonema, cancele o Pomodoro e recomece um novo na sequência." E isso não deve ser usado no tempo livre que todo filho de Deus (supostamente) tem durante a semana.

Não sou nada metódica, e em nada tal método deveria me interessar. Entretanto, já estou cansada de me enrolar, me perder, esquecer de tudo a toda hora e sacrificar domingos para realizar coisas que poderiam ter sido feitas durante a semana, SE eu fosse mais focada, SE eu gastasse menos tempo na net, SE eu me distraisse menos, SE eu fosse mais organizada... na minha idade, de boa, perdeu a graça. Estou disposta a tentar. Situações desesperadas, medidas desesperadas. Falei sobre o método para uma colega de trabalho e ela riu, achando-o ridículo. Eu também achei. Mas minha vida também está ridícula de enrolada, de atarefada... e olha que nem trabalho 8 horas por dia.

Então o que acontece?

Acontece que não é que eu trabalhe muito, eu trabalho EM muitas coisas coisas diferentes E em lugares diferentes. Sou "professor camelô": onde tiver oportunidade, pra lá vou. Não é fácil, não. Mas é o que tem que ser, até pintar coisa melhor, mais estável, mais rentável. Que, (podem rir, podem rir) ainda espero que seja na área da educação, que é do que gosto de fazer. Ainda tenho que cuidar da casa. De mim, tanto do físico, para não quebrar espelhos por aí, quanto de minha formação.

 Então, quem sabe, o método Pomodoro possa salvar uma pessoa que tem que preparar aulas de Português, preparar aulas de Japonês - tanto para as 3 turmas do curso quanto para 5 alunos particulares espalhados pela zona sul e oeste do Rio - aulas de desenho para 2 alunos, dona de casa, responsável por pagar as contas, fazer compras, que tem que cuidar de duas gatas, que quer continuar a desenhar e terminar sua HQ (que se arrasta por mais de uma década!), publicar seu romance (escrito há 11 anos e revisado no início deste ano...), voltar a escrever, fazendo curso de extensão on line, estudar (japonês "afinal nunca pode parar", didática "sempre é bom, pro trabalho e pra concursos que vêm aí), se preparar para seleção de mestrado, fazer pelo menos 30 minutos no aparelho elíptico que comprou por mil reais e hoje é cabide de bolsas no quarto, que tem que cuidar da aparência para seu próprio bem estar e por uma apresentação decente perante o mundo (e nós mulheres sabemos que, não sendo "uma agraciada pela natureza" ISSO DEMANDA TEMPO...)...


                     Troque o bebê por duas gatinhas e voilá... it's my life. Ainda que faltem braços aí.



Eu só acho que 25 minutos é pouco tempo. Poderiam ser 30... mas se o timer for de 30 minutos mesmo, começarei obedecendo a cronometragem sugerida. Ai, que vergonha, me sinto meio bocó. Mas é como disse, estou cansada de perder dias livres, de não ter tempo para os amigos, ou até pra mim. Tem dias que isso me deixa realmente exasperada, de mau humor. Tem dias que me deixa triste e angustiada. Não sei o que é pior. Minha sorte é que, na maior parte do tempo, eu não perco o bom humor. Isso não. Nem que seja pra rir de mim mesma.

Aliás, pesquisando sobre isso, também vi umas dicas interessantes, sobre como se desligar um pouco também das redes sociais. Isso eu acho que procede, e muito: quantas vezes me sentei aqui para, sei lá, responder um email, daí vi algo sobre Facebook, fui lá ver... e adeus, facinho facinho, uma hora de uma manhã de 4 horas de que disponho para resolver a vida. Parei. Alguns já devem ter notado que ando sumida do Face. A tendência, se eu tomar vergonha na cara, é sumir ainda mais! Outra coisa que eu faço direto: ligar o computador assim que acordar. Procurar não fazer mais isso, a menos que tenha extremo autocontrole de conferir APENAS emails e ver se tem algo urgente ou modificando o que se planejava para o dia. Não será difícil, eu me adapto facilmente às coisas. Difícil é começar a fazê-las. Como o é com todo mundo, acho.

Então fico por aqui, pois como várias coisas se acumularam durante a semana, este domingo foi reservado para resolvê-las... quem sabe o próximo não seja diferente? Voltarei para comentar a validade da técnica.

Ah, e claro: pesquisar onde diabos eu compro um timer desses. E queria de tomatinho mesmo!  Porque já vi de abacaxi, de bichinho, de cozinheiro bigodudo (!), mas nisso sou metódica: QUERO UM TIMER EM FORMA DE TOMATE!

domingo, 4 de setembro de 2011

Roda de leitura 1 - "A dança dos Ossos" de Bernardo Guimarães (Ensino médio)

Muito se fala do desinteresse total e absoluto dos alunos pela leitura, e isso não é um exagero. Pode ser uma generalização, mas não um exagero. E afinal como é que um professor de português vai "trabalhar leitura em sala de aula" (que expressão estranha... mas é a utilizada O.o) nessas condições? Bom, não tenho a MENOOOOR intenção de me posicionar como "aquela que encontrou a solução!", tampouco a "novata que mal chegou e resolveu o problema há muito presente" (afinal, mal tenho dois anos de magistério...). Também não se trata de pesquisa alguma, nem nada científico. Ainda não fiz mestrado nem me candidatei a tal - estou fazendo um curso à distância pelo CECIERJ em redação acadêmica, a fim de entender melhor de como escrever de maneira objetiva, para aí sim, tentar uma pós. Vou apenas relatar alguns procedimentos realizados em sala de aula, na rede estadual de ensino, que PARA MIM, deram certo. Não tenho a intenção de sugerir nada disso a alguém, e por certo, muito do que fiz/faço nem mesmo é novidade para alguns  colegas já calejados. Bem, chega de enrolar e vamos aos fatos.

Quando falo sobre "leitura", eu percebo que o aluno a associa a algo longe de sua realidade; ele pensa LEITURA=LIVROS GRANDES, CAROS, DIFÍCEIS. Clássicos, coisa de "intelectual". Certo dia, ouvi de uma aluna, que viu uma revista Época na minha mesa (ÉPOCA!!! obs.: era da escola ^^) "ai, professora, acho tão bonito gente que lê essas revistas, época, Veja... coisa de intelectual, inteligente" (!!!) E ele também não pensa no português como algo SEU, ferramenta de que se serve TODOS os dias. É troço difícil, distante, fora de seu mundo. Nunca vai dominá-lo, então melhor não mexer com ele. E, claro, além de tudo, chato.

Numa era tão imediatista como a em que vivemos, é complicado oferecer algo que não proporciona prazer imediato. Sim, pois que a leitura só causa prazer no final de toda uma etapa que deve ser vencida, etapa esta que vem por eles sendo evitada/negada por toda uma vida.

Bem, costumo ver o termo "rodas de leitura" mais associado ao ensino fundamental. Mas resolvi tentar numa série de segundo ano do ensino médio na escola estadual onde leciono. Estávamos vendo "prosa romântica", e esbarramos em Bernardo Guimarães, cujo trabalho mais famoso é "A escrava Isaura". Não tendo tempo para lermos um romance inteiro dele, resolvi mostrar um de seus contos. Claro que nessa hora, não sei quanto aos outros professores, mas não consigo ser muito imparcial... acabo escolhendo algo de que gosto. Isso não é tão difícil, visto que gosto de quase tudo, eu, que sou aquela pessoa que gosta de ler até bula de remédio. Mas poxa, é preciso passar ENTUSIASMO na leitura para o aluno ver que aquilo pode ser legal... é mais fácil fazer isso quando se gosta, né? E sai bem mais naturalmente... não se enganem, os alunos PERCEBEM quando a gente não curte aquilo, rs. E vai a gente dizer que ele tem que gostar ou fazer, hehe... enfim, escolhi o conto "A dança dos ossos". Texto gostoso e fluido, liguagem acessível, mesmo com mais de um século, fala sobe uma tumba de onde os ossos saem para dançar, enquanto a alma do defunto fica na sepultura. É a "maldição de Joaquim Paulista"...

Pedi que me ajudassem a arrumar cadeiras em círculo, nos fundos da sala. Até então, claro que foi um "fuzuê". Tinha até uma menina sambando, sabe lá Deus por quê. Doidinhos.

Com certo custo, não nego, fiz meus queridos sentarem nas cadeiras e fui entregando a cada um deles o conto xerocado. Alguns já faziam caretas, outros "ah, eu não vou ler não, professora!", "ah, não quero não, professora!" (!) e eu neeeem aí. Quando terminei de entregar, uma menina quase gritou:
- Professora, cê não vai mandar a gente ler não, né, pelo amor de Deus! Odeio ler em voz alta, aliás, ODEIO LER!"
- Olha só, eu não vou obrigar ninguém a ler em voz alta, não. - disse, muito calma.
- NÃÃÃÃÃOO?
- Não, não. Vamos fazer o seguinte. EU vou começar. Depois, eu deixo QUEM QUISER continuar. Certo?
- Ah, que bom - uma menina riu, e chegou a colocar o texto de lado e cruzar as pernas, como se dissesse "então nem vou olhar essa merda.".
- Beleza, então vamos lá.
Comecei a ler, com voz afetada de locutora de programa de terror, fazendo caras e bocas, como (dizem) costumo fazer:

"A noite, límpida e calma, tinha sucedido a uma tarde de pavorosa tormenta,
nas profundas e vastas florestas que bordam as margens do Parnaíba, nos limites
entre as províncias de Minas e de Goiás.
Eu viajava por esses lugares..."

(A quem interessar: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000038.pdf  é delicioso!)

Após a decrição, quando enfim os personagens iam falar, perguntei quem queria continuar. A princípio, ninguém, como era de se esperar. Um pouco de insistência e uma voluntária se pronunciou. Depois outra, depois outro...virei-me para uma que não havia lido:

- Quer continuar, A.?

- Não, professora, eu leio muito mal.

- Bah, que nada. Se não treinar um pouquinho, vai continuar lendo mal. Quem vai emagrecer sem fazer exercício? Você emagreceu bastante, não foi?


- Ai, professora, brigada... fico tão feliz quado me dizem isso!

- Então retribui lendo aí - o pessoal riu e ela pareceu ficar mais descontraída. E leu. Não a corrigi salvo nas palavras que poderiam comprometer o entendimento do texto. Eu havia alertado sobre a presença de algumas palavras desconhecidas, mas que seriam entendidas pelo contexto (depois, confirmei isso verificando as palavras por eles marcadas. A grande maioria havia SIM, sido entendida).

Notei com alegria que P., a menina que havia largado o texto numa cadeira ao seu lado, agora o tinha nas mãos, e acompanhava com interesse, chegando a ficar curvada. O "causo" misterioso relatado pelo barqueiro foi acompanhado por risadinhas, "credo" e "cruzes" baixinhos, "que horror", "eu sairia correndo, tá doido!" "eu já estaria morto só de ver isso!", ou seja, estava causando REAÇÃO.

Os leitores foram se revezando, não com muita frequência, "quebrando a narrativa nos momentos certos", como num pequeno comercial. Uma coisa que me marcou muito foi que qundo eu disse "Muito obrigada, fulano", ANTES DE PERGUNTAR QUEM QUERIA CONTINUAR, a aluna A., que se recusou veementemente a ler de início, continuou, resoluta. Houve mesmo uma pessoa que disse "eu quero continuar, mas acho que ninguém quer que eu leia, por eu ler mal demais". Falei " 'bora' com isso, deixa de estrelismo" eles riram e ela também, e foi em frente. Talvez alguém dissesse que eu agia levianamente, com essas piadinhas infames e não com palavras de real motivação... comigo o bom humor costuma funcionar melhor nessas horas tensas - eu tenho sim, meus momentos de "passar mensagens motivacionais", contudo naquela hora "não podia deixar a peteca cair", não podia deixar o entusiasmo esfriar... tinha que ser rápido e rasteiro. Aqueles jovens, que adooooram apregoar que não gostam de ler, estavam vibrando, tensos, querendo saber o que iria acontecer. E ESTAVAM LENDO. Mesmo os que disseram que não o faria. Houve mesmo um que disse que era a PRIMEIRA VEZ que fazia leitura em voz alta (!)

                                                   Este foi o trecho ao qual eles mais reagiram


Assim prosseguiu (teve uma hora que a luz piscou, foi aquele alvoroço!) até que...
- Ué... - disse um.
- Professora, cadê o final????
- É, cadêee??? Não terminou! Ele disse que ia contar a história do Joaquim Paulista, explicar a maldição, mas acabaram as "folhas"!
- É - disse eu.
-????....
- Eu só trouxe a metade o conto. Terminaremos de ler na próxima aula.
- PROFESSORA, NÃO FAZ ISSO COM A GENTE!
Houve gritinhos de "sacanagem, quero saber o resto!", "isso é maldade", dentre outros.
- Lembram quando no início dessa matéria, romantismo em prosa, a gente viu sobre os "folhetins"? Que eram mesmo? - Perguntei, já me levantando e fingindo que não ligava pro chororô deles.
- Eram aquelas histórias que saíam nos jornais antigamente, que continuavam só no outro dia, deixando todo mundo querendo saber o que iria acontecer - respondeu um.
- Tipo as "novelas de hoje", os "coitados" não tinham televisão, então... - disse outra.
- Pois então - disse eu - vocês vão saber agora como aquelas pessoas se sentiam, né?
"Ai, professora, maldade", cheguei a ouvir. Alguém foi além e disse, quase em provocação
- É ruim de esperar, EU VOU PROCURAR NA INTERNET!

Hum. Um gostinho de "missão cumprida" me invadiu naquele momento.


                                                                  Valeu, carinha.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Sophie Lancaster

É notícia velha, e talvez disso muitos saibam - de qualquer maneira, não creio que sejam muitos os que este humilde blog visitem... - mas apesar de já ter ouvido por alto sobre isso, somente hoje soube direito como se deu o ocorrido: o assassinato de Sophie Lancaster, uma jovem de 20 anos que foi brutalmente chutada até a morte na Inglaterra em 2007, tão somente por seu visual gótico.

Achei interessante colocar isso aqui, não somente pelo impacto que senti ao conhecer integralmente a história, como também pela tocante animação que foi feita pelo francês Fursy Teyssier, pela agência Propaganda, que tem como trilha sonora a música "Roads" do Portishead.

Eis o vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=qW2ve6_BkRA 




"Sophie Lancaster voltava para casa com seu namorado Robert Malltby à noite, por um parque em Lancashire, noroeste da Inglaterra, quando foram surpreendidos por um grupo de adolescentes, que começaram a provocá-los e agredi-los, tão somente por estarem com visual gótico. Maltbay foi golpeado e perdeu a consciência; Sophie, ao tentar protegê-lo, interpondo-se entre o jovem e os agressores, foi alvo de vários chutes. Uma testemunha relatou que os criminosos miravam a cabeça e chegaram mesmo a pular sobre a região. Houve até comemoração pelo "feito". Foi dito durante o processo que os dois estavam tão irreconhecíveis quando removidos, que não se podia dizer quem era o rapaz e quem era a garota.


O casal entrou em coma; Robert sobreviveu, Sophie, não."


Quem se interessar pela história detalhada, bem como sobre o julgamento, repercussão e tributos realizados a ela, poderá ler na íntegra: http://en.wikipedia.org/wiki/Murder_of_Sophie_Lancaster




 E senta que lá vem a (minha) história:

Em 1993, eu andava por Botafogo com uma amiga, quando fomos paradas por um grupo de caras que se diziam "carecas". Um deles me puxou pelo braço e já me arrastava para o grupo - minha amiga conseguiu escapulir, e não a culpo: se ela os tivesse enfrentado, poderia ter sido uma "Sophie Lancaster". Foi então que um deles disse "não, não, é mulher, cara, é mulher!". E o brucutu me soltou, dizendo ainda "ih, foi mal, gata, foi mal...pensei que fosse um cabeludo." (!!!)

Bem, por várias vezes na vida, reclamei de ter nascido mulher, desta vez o fato de SER MULHER talvez tenha me garantido "nascer de novo"...

Quando houve aquele episódio dos playboys aqui do Rio terem surrado uma empregada doméstica, me lembrei disso, porque eles disseram "Atacamos porque pensamos que ela fosse uma garota de programa". Não pude deixar de pensar que se aquele cara não tivesse alertado os comparsas sobre meu sexo (ui!), poderia ser de mim que eles falariam, num possível julgamento "Atacamos ela porque pensamos que fosse um cabeludo maluco."

Enfim, o mundo... e salve-se quem puder.

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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A sereia que virou bagre

Assisti pelo Facebook um vídeo que, a despeito de todas as críticas que possa receber dos politicamente corretos e noiados de plantão, me fez rir bastante. Uma mulher (por acaso gorda) nitidamente embriagada, leva uns caixotes na praia e não consegue se erguer, sendo atingida por uma sucessão de ondas, que só a fazem ficar mais sem ação. Bem, aqui está o vídeo:


http://sorisomail.com/partilha/160167.html


Já vi comentários acerca do possível preconceito que moveria as pessoas que rissem da pobre mulher, mas sem querer tirar o meu da reta, preconceituosos mesmo foram aqueles que estavam lá e nada fizeram para ajudar a coitada. Aposto (e sei que ganharia) que se fosse uma Juju Panicat da vida, pelo menos uma dúzia de homens estaria lá para resgatá-la daquela talassoterapia involuntária. Tudo bem que o aparentemente exarcebado peso da agonizante poderia oferecer certo trabalho, mas nada que três ou quatro homens não pudessem fazer. Com MUITA VONTADE de ajudar o próximo, até um. Vê-se, já quase no final do vídeo, que algumas crianças tentam fazê-lo, obviamente dando-se conta da inpossibilidade, e até mesmo do perigo. Contudo, projetam-se para ela, estendem-lhe a mão, ensaiam um auxílio, movidos pelo instinto de solidariedade que nem todos possuem.

E porque ri? Não ri por ela ser mulher e gorda. Ri como riria de qualquer um, homem, mulher, magro, negro, branquelo. E mais ainda, não ri da pessoa, e sim da situação. Afinal, já passei uma semelhante. Graças ao bom Deus, numa época em que as câmeras digitais engatinhavam no mercado, e os telefones celulares, verdadeiros tijolinhos, estavam beeeem longe de possuir câmeras...

Foi lá pros idos de 2002. Início de namoro, encantos irretocáveis. O incidente ocorreu bem na delicada fase do namoro quando se quer parecer perfeito(a) aos olhos do outro(a).

Fomos pela primeira vez à praia, e havíamos tomado umas cervejinhas. Eu, que adoro nadar e não estava nem mesmo "alta", resolvi ir para água, me refestelar. O jovem que me acompanhava preferiu ficar na areia. Era daquelas pessoas que dizem "respeitar o mar", maneira eufemística de dizer "me borro de medo de entrar nessa banheira oceânica". Dei um último gole, lancei para ele aquele olhar 43 e me ergui, caminhando sedutoramente até o mar. Joguei-me deliciosamente e deixei as águas me abraçarem, me dizendo o quanto eu era amada pela natureza, uma sereia. Sim, uma sereia... lá da areia, o rapaz por certo me observava, embevecido com meu desembaraço, minha intimidade com o mar que ele tanto temia. Que estava meio brabinho, aliás, mas isso era um detalhe. Ondas batiam em minhas costas, raios de sol beijavam minha pele, gotas como estrelas pontilhavam minha face radiante... ele me olha... ele me admira...

 As ondas foram ficando mais frequentes. Para não me desequilibrar tão muito, resolvi ir no ritmo delas, ensaiando uns "jacarezinhos" (não à toa, hoje acho isso mais patético que banho de mangueira na laje). Bem, o que se deu em seguida foi que tomei uns caixotes muito dos feios, e foi numa situação bem desconfortável: justamente quando queria parecer aos olhos daquele bofe a mulher mais sedutora, mais cool do planeta. Quis parecer uma sereia séquici e paguei de oferenda recusada por Yemanjá. Fui rolando até onde batiam as canelinhas das crianças. Mas consegui me erguer, e caminhei resolutamente até onde o efebo estava. Em minha cabeça, além do "ziiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiin" causado pelo excesso de água em meus ouvidos, ecoava "elenãoviuelenãoviuelenãoviuelenãoviuelenãoviu".

Entretanto, como merdas são infinitas, percebi que além de presenteá-lo com aquele espetáculo, eu agora possuia "um detalhe a mais": um volumoso depósito de areia nos fundilhos do maiô... foi como fazer uma mudança de sexo relâmpago. E na certa, meu recém adquirido "detalhe" causaria inveja a um ator de filme pornô.

Sentei-me ao lado dele, que gentilmente já tinha a postos uma lata de cerveja geladinha. Tirei os cabelos da minha cara para beber, quase num gole só, enquanto ele permanecia em silêncio. Enfim, após quase esvaziar a lata, perguntei:
- Você viu aquilo, não viu?
- Vi sim.
E riu até quase morrer. Tive que rir também.

...

Epílogo: dias depois, tive também que ir ao otorrino, tirar a água de um ouvido. Tinha ficado surda dele por uma semana por causa da minha "talassoterapia involuntária".

domingo, 21 de agosto de 2011

ALMAS EM CONFLITO - A.J. CRONIN

Após um jejum forçado de leituras de "lazer" (leia-se livros QUE NÃO SEJAM técnicos, de português, didática, japonês, etc), no recesso de julho reli um que há muito me deliciara, embora não seja uma obra-prima, muito pelo contrário: é muito simples, por qualquer um digerível, de linguagem tão acessível que beira o banal. Trata-se de "Almas em Conflito", do escritor escocês A. J. Cronin. No original, "The Spanish Gardener" ("O Jardineiro Espanhol") e em algumas edições recebeu este mesmo nome aqui em terras tupiniquins.

Cronin não fez parte do grupo extenso de escritores que morreram no ostracismo, ou incompreendidos no seu tempo. Obras suas viraram filmes ("Spanish Gardener" também, em 1956), e ele foi extremamente popular, vendeu livros como água, especialmente "A Cidadela" . Além disso, teve uma carreira consolidada como médico, e passou a se dedicar à literatura em virtude de uma licença: sérios problemas de saúde (teve úlcera duodenal e recebeu a ordem médica de ficar 6 meses em repouso absoluto, sob dieta)o fizeram a passar seu consultório.

"Almas em Conflito" não figura entre suas obras mais expressivas, talvez até por causa da extrema simplicidade, tanto do texto quanto do enredo: conta sobre a amizade desenvolvida entre um rico garotinho americano super protegido pelo pai e um rústico jardineiro espanhol que vai trabalhar na casa. A amizade dos dois desperta inúmeras intrigas, fomentadas pelo preconceito, pela inveja, e pela possessividade do pai.

Simples assim. Porém, Cronin concebeu um livro extremamente singelo: a suavidade que desfila nas páginas do romance em breve se converte em tensão. Nicholas, de 9 anos, é o filho único do cônsul americano Harrington Brande, transferido para uma remota cidadezinha no litoral da Espanha (para onde vai com extrema má vontade, sentindo-se diminuído por isso). José é um jovem de 19 anos, muito querido e popular no vilarejo onde vive, que vai trabalhar como jardineiro na casa do cônsul. Brande, tendo sido abandonado pela mulher, se agarra ao filho como razão de sua vida, transformando o amor em sentimento de posse. O menino é tratado como uma criança doente(sem o ser), sendo exageradamente protegido, sufocado. Nem ao menos brinca ao ar livre ou frequenta uma escola; seu próprio pai "cuida" de seus estudos, chegando ao cúmulo de ler, para o menino dormir, um livro de ornitologia (parte da biologia que estuda as aves)!

Considerado doentio, frágil, incapaz mesmo de ser criança, passa seus dias lendo, estudando, recluso, preso como um passarinho. Com uma vidinha triste como essa, e sem ter contato com outros seres humanos que não seu possessivo pai, era inevitável não se encantar com o recém contratado do sisudo Mr. Brande: o jardineiro José, além de jovem, robusto, vigoroso, alegre e bem-humorado, era atraente e cheio de vida. Vida a qual lhe parecia ser negada, vida em plenitude. A felicidade, o otmismo, a doçura, malgrado sua simplicidade e pobreza, são um íma para o pobre menino rico. E o pesadelo de Mr. Brande toma forma: seu adorado filhinho começa a admirar, a amar outra pessoa. Não apenas a ELE. E, pior, é correspondido.

Antes que alguma adepta do "yaoi" se assanhe, aviso: o amor que se desenvolve entre os dois NÃO é de cunho romântico. Não se trata de relação homossexual, aqui. Nicholas vê em José tudo aquilo que ele queria ser: vigoroso, auto-suficiente, alegre e livre. E José vê em Nicholas um irmãozinho mais novo, vítima de um amor sufocante, que necessita de libertação, de conhecer a vida. A relação entre ambos obviamente é proibida, sendo Nicholas rico e filho do patrão, e José um reles empregado, pobre e rústico (e a história se passando no início do século XX faz com que a separação social seja ainda mais intransponível). Cenas divertidas, ternas, deliciosas, se passarão, até o sol deste dia luminoso ser bloqueado pelas maquinações de homens mesquinhos, pelo preconceito que tão linda relação desperta, pelo orgulho ferido de um pai doentiamente egoísta que não mais se vê no centro do mundo de seu filhinho.

Hoje, que se fala tanto em homofobia, se discute tanto sobre aspectos de preconceito, este livro deveria ser mais conhecido e considerado. Não só pela linguagem acessível, que muito com isso colabora, como pelo enredo, é muito atual.

Tenho o sonho (gostaria de dizer "plano", mas a julgar pelo ritmo de minha vida - já me sinto um tanto culpada de aqui estar escrevendo, ao invés de estar cuidando de meus afazeres - é mais "sonho", mesmo) de algum dia quadrinizar essa história. É, eu tenho essa vontade com outras histórias também... ai ai. "Crime e Castigo", "A Dança dos Ossos", "Werther"... me aguardem, um dia me aposento.























quinta-feira, 18 de agosto de 2011

"Voltar para a casa à noite: um teste!"

Este trecho foi retirado de um livro que acabei de ler, "O resgate da autoridade em educação", de Gérard Guillot, professor de Filosofia da Universidade de Lyon, França - supostamente um livro para educadores, porém recheado de ponderações extremamente interessantes para todos. Quer um exemplo? Veja se o que vem a seguir não serve para TODOS que vivem com alguém, seja parceiro amoroso, amigo ou família:


"Voltar para casa à noite: um teste!
Após um dia duro de trabalho, você se encontra com os seus, por exemplo, com seu parceiro, e lhe diz imediatamente (o que não o surpreende muito!): 'Que dia: pior que o normal!' Pergunta-lhe como a descida ao inferno do pior pode ser tão abissal! 'Você não acreditar no que me fez o 'Fulano' hoje!' De fato, há frequentemente um (ou vários!) 'Fulano(s)' em um período de vida profissional!(...)
Quando nos comportamos desse modo, o que estamos fazendo na realidade? Damos a entender à pessoa amada que o mais importante, imediatamente, no momento do reencontro, é despejar o negativo acumulado; você me dirá 'não se vai a cada noite ficar extasiado de encontrá-la, ela quase 'faz parte da mobília da casa'! E no entanto, é preciso escolher. Com efeito, essa atitude transforma o outro em 'lixeira afetiva'... E depois ficamos espantados que a noite não tenha sido boa, que a relação se destrua!(...)

Evocar seus problemas é legítimo, mas um pouco mais tarde e serenamente! Nem sempre sabemos 'fechar as portas' das situações(...).

A dependência do negativo leva-nos a não ver os encontros com o positivo, aqueles que dão alegria."

(páginas 111 e 112)



terça-feira, 16 de agosto de 2011

Mondo cane... ah, sim, é o Rio de Janeiro, só isso!

Terça-feira, duas e meia da tarde. Indo dar aula particular de japonês.

Eu pago uma passagem de metrô com uma nota de 10 reais. Para não fugir à regra, a funcionária me pergunta se tenho 10 centavos. Eu procuro (mesmo!): não tenho. Anda rica, essa minha carteira, só dá moedas de 50 centavos e de um real. Uau. Ela aceita, fazer o quê?, e me dá o troco.

Dou uns passos - veja bem, UNS PASSOS, ainda me encontro a anos-luz das roletas -  e vejo que não há R$ 6,90 na minha mão, e sim R$ 4,90. Volto ao guichê :
- Desculpe, você me deu 4,90 de troco, mas eu te dei 10.
- Oh, senhora, a senhora esqueceu uma nota de 2 aqui...o rapaz que estava atrás de você PEGOU.
- ...como é?...
- Ele pegou logo, e saiu...
- ...

Holy... FUCK.


Negócio tá feio por aê. E não falo de grana, não.




Não concordo, mas ENTENDERIA se fosse 20 "real", 50 "real"... um roubo, burra eu. Mas "dois real"? Isso não é mais questão de bolso, minha gente. Cês sabem que não. Ainda mais em se tratando do Rio, a Terra dos Exschxxxxxpéertosh.

domingo, 14 de agosto de 2011

A blog is born!

Bem, aqui vou eu para mais uma tentativa de ter um blog. Confesso que um misto de preguiça e falta de tempo sempre foi o culpado pela morte de uns dois ou três que tentei manter. E curiosamente fui escolher um dia de limpeza na casa para fazer isso (fuga dos afazeres domésticos detected). É triste fazer limpeza na casa em pleno domingo, mas quando se trabalha de segunda a sábado, não há opções... ando procurando uma faxineira, contudo o diminuto tamanho de meu lar, bem como a preocupação com minhas gatinhas Pandora Malvadeza e Pingo Sobremesa, exigiriam minha presença aqui quando do serviço da profissional. Já que isso é impossível, por enquanto (a menos que encontre uma que o faça em pleno domingão!) esse odioso ofício ficará a meu cargo, aff e aff.

Por isso retiro-me, indo já colocar umas latinhas de Brahma no congelador, para poder me recompensar mais tarde por este sacrifício dominical. Até mais ver.