terça-feira, 30 de agosto de 2011

Sophie Lancaster

É notícia velha, e talvez disso muitos saibam - de qualquer maneira, não creio que sejam muitos os que este humilde blog visitem... - mas apesar de já ter ouvido por alto sobre isso, somente hoje soube direito como se deu o ocorrido: o assassinato de Sophie Lancaster, uma jovem de 20 anos que foi brutalmente chutada até a morte na Inglaterra em 2007, tão somente por seu visual gótico.

Achei interessante colocar isso aqui, não somente pelo impacto que senti ao conhecer integralmente a história, como também pela tocante animação que foi feita pelo francês Fursy Teyssier, pela agência Propaganda, que tem como trilha sonora a música "Roads" do Portishead.

Eis o vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=qW2ve6_BkRA 




"Sophie Lancaster voltava para casa com seu namorado Robert Malltby à noite, por um parque em Lancashire, noroeste da Inglaterra, quando foram surpreendidos por um grupo de adolescentes, que começaram a provocá-los e agredi-los, tão somente por estarem com visual gótico. Maltbay foi golpeado e perdeu a consciência; Sophie, ao tentar protegê-lo, interpondo-se entre o jovem e os agressores, foi alvo de vários chutes. Uma testemunha relatou que os criminosos miravam a cabeça e chegaram mesmo a pular sobre a região. Houve até comemoração pelo "feito". Foi dito durante o processo que os dois estavam tão irreconhecíveis quando removidos, que não se podia dizer quem era o rapaz e quem era a garota.


O casal entrou em coma; Robert sobreviveu, Sophie, não."


Quem se interessar pela história detalhada, bem como sobre o julgamento, repercussão e tributos realizados a ela, poderá ler na íntegra: http://en.wikipedia.org/wiki/Murder_of_Sophie_Lancaster




 E senta que lá vem a (minha) história:

Em 1993, eu andava por Botafogo com uma amiga, quando fomos paradas por um grupo de caras que se diziam "carecas". Um deles me puxou pelo braço e já me arrastava para o grupo - minha amiga conseguiu escapulir, e não a culpo: se ela os tivesse enfrentado, poderia ter sido uma "Sophie Lancaster". Foi então que um deles disse "não, não, é mulher, cara, é mulher!". E o brucutu me soltou, dizendo ainda "ih, foi mal, gata, foi mal...pensei que fosse um cabeludo." (!!!)

Bem, por várias vezes na vida, reclamei de ter nascido mulher, desta vez o fato de SER MULHER talvez tenha me garantido "nascer de novo"...

Quando houve aquele episódio dos playboys aqui do Rio terem surrado uma empregada doméstica, me lembrei disso, porque eles disseram "Atacamos porque pensamos que ela fosse uma garota de programa". Não pude deixar de pensar que se aquele cara não tivesse alertado os comparsas sobre meu sexo (ui!), poderia ser de mim que eles falariam, num possível julgamento "Atacamos ela porque pensamos que fosse um cabeludo maluco."

Enfim, o mundo... e salve-se quem puder.

http://freetheimmortal.webs.com/SNN2805B-384_459759a.jpg




http://image1.findagrave.com/photos250/photos/2008/95/25760632_120742752381.jpg




http://louderthanwar.com/wp-content/uploads/2011/03/sophie.jpg

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A sereia que virou bagre

Assisti pelo Facebook um vídeo que, a despeito de todas as críticas que possa receber dos politicamente corretos e noiados de plantão, me fez rir bastante. Uma mulher (por acaso gorda) nitidamente embriagada, leva uns caixotes na praia e não consegue se erguer, sendo atingida por uma sucessão de ondas, que só a fazem ficar mais sem ação. Bem, aqui está o vídeo:


http://sorisomail.com/partilha/160167.html


Já vi comentários acerca do possível preconceito que moveria as pessoas que rissem da pobre mulher, mas sem querer tirar o meu da reta, preconceituosos mesmo foram aqueles que estavam lá e nada fizeram para ajudar a coitada. Aposto (e sei que ganharia) que se fosse uma Juju Panicat da vida, pelo menos uma dúzia de homens estaria lá para resgatá-la daquela talassoterapia involuntária. Tudo bem que o aparentemente exarcebado peso da agonizante poderia oferecer certo trabalho, mas nada que três ou quatro homens não pudessem fazer. Com MUITA VONTADE de ajudar o próximo, até um. Vê-se, já quase no final do vídeo, que algumas crianças tentam fazê-lo, obviamente dando-se conta da inpossibilidade, e até mesmo do perigo. Contudo, projetam-se para ela, estendem-lhe a mão, ensaiam um auxílio, movidos pelo instinto de solidariedade que nem todos possuem.

E porque ri? Não ri por ela ser mulher e gorda. Ri como riria de qualquer um, homem, mulher, magro, negro, branquelo. E mais ainda, não ri da pessoa, e sim da situação. Afinal, já passei uma semelhante. Graças ao bom Deus, numa época em que as câmeras digitais engatinhavam no mercado, e os telefones celulares, verdadeiros tijolinhos, estavam beeeem longe de possuir câmeras...

Foi lá pros idos de 2002. Início de namoro, encantos irretocáveis. O incidente ocorreu bem na delicada fase do namoro quando se quer parecer perfeito(a) aos olhos do outro(a).

Fomos pela primeira vez à praia, e havíamos tomado umas cervejinhas. Eu, que adoro nadar e não estava nem mesmo "alta", resolvi ir para água, me refestelar. O jovem que me acompanhava preferiu ficar na areia. Era daquelas pessoas que dizem "respeitar o mar", maneira eufemística de dizer "me borro de medo de entrar nessa banheira oceânica". Dei um último gole, lancei para ele aquele olhar 43 e me ergui, caminhando sedutoramente até o mar. Joguei-me deliciosamente e deixei as águas me abraçarem, me dizendo o quanto eu era amada pela natureza, uma sereia. Sim, uma sereia... lá da areia, o rapaz por certo me observava, embevecido com meu desembaraço, minha intimidade com o mar que ele tanto temia. Que estava meio brabinho, aliás, mas isso era um detalhe. Ondas batiam em minhas costas, raios de sol beijavam minha pele, gotas como estrelas pontilhavam minha face radiante... ele me olha... ele me admira...

 As ondas foram ficando mais frequentes. Para não me desequilibrar tão muito, resolvi ir no ritmo delas, ensaiando uns "jacarezinhos" (não à toa, hoje acho isso mais patético que banho de mangueira na laje). Bem, o que se deu em seguida foi que tomei uns caixotes muito dos feios, e foi numa situação bem desconfortável: justamente quando queria parecer aos olhos daquele bofe a mulher mais sedutora, mais cool do planeta. Quis parecer uma sereia séquici e paguei de oferenda recusada por Yemanjá. Fui rolando até onde batiam as canelinhas das crianças. Mas consegui me erguer, e caminhei resolutamente até onde o efebo estava. Em minha cabeça, além do "ziiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiin" causado pelo excesso de água em meus ouvidos, ecoava "elenãoviuelenãoviuelenãoviuelenãoviuelenãoviu".

Entretanto, como merdas são infinitas, percebi que além de presenteá-lo com aquele espetáculo, eu agora possuia "um detalhe a mais": um volumoso depósito de areia nos fundilhos do maiô... foi como fazer uma mudança de sexo relâmpago. E na certa, meu recém adquirido "detalhe" causaria inveja a um ator de filme pornô.

Sentei-me ao lado dele, que gentilmente já tinha a postos uma lata de cerveja geladinha. Tirei os cabelos da minha cara para beber, quase num gole só, enquanto ele permanecia em silêncio. Enfim, após quase esvaziar a lata, perguntei:
- Você viu aquilo, não viu?
- Vi sim.
E riu até quase morrer. Tive que rir também.

...

Epílogo: dias depois, tive também que ir ao otorrino, tirar a água de um ouvido. Tinha ficado surda dele por uma semana por causa da minha "talassoterapia involuntária".

domingo, 21 de agosto de 2011

ALMAS EM CONFLITO - A.J. CRONIN

Após um jejum forçado de leituras de "lazer" (leia-se livros QUE NÃO SEJAM técnicos, de português, didática, japonês, etc), no recesso de julho reli um que há muito me deliciara, embora não seja uma obra-prima, muito pelo contrário: é muito simples, por qualquer um digerível, de linguagem tão acessível que beira o banal. Trata-se de "Almas em Conflito", do escritor escocês A. J. Cronin. No original, "The Spanish Gardener" ("O Jardineiro Espanhol") e em algumas edições recebeu este mesmo nome aqui em terras tupiniquins.

Cronin não fez parte do grupo extenso de escritores que morreram no ostracismo, ou incompreendidos no seu tempo. Obras suas viraram filmes ("Spanish Gardener" também, em 1956), e ele foi extremamente popular, vendeu livros como água, especialmente "A Cidadela" . Além disso, teve uma carreira consolidada como médico, e passou a se dedicar à literatura em virtude de uma licença: sérios problemas de saúde (teve úlcera duodenal e recebeu a ordem médica de ficar 6 meses em repouso absoluto, sob dieta)o fizeram a passar seu consultório.

"Almas em Conflito" não figura entre suas obras mais expressivas, talvez até por causa da extrema simplicidade, tanto do texto quanto do enredo: conta sobre a amizade desenvolvida entre um rico garotinho americano super protegido pelo pai e um rústico jardineiro espanhol que vai trabalhar na casa. A amizade dos dois desperta inúmeras intrigas, fomentadas pelo preconceito, pela inveja, e pela possessividade do pai.

Simples assim. Porém, Cronin concebeu um livro extremamente singelo: a suavidade que desfila nas páginas do romance em breve se converte em tensão. Nicholas, de 9 anos, é o filho único do cônsul americano Harrington Brande, transferido para uma remota cidadezinha no litoral da Espanha (para onde vai com extrema má vontade, sentindo-se diminuído por isso). José é um jovem de 19 anos, muito querido e popular no vilarejo onde vive, que vai trabalhar como jardineiro na casa do cônsul. Brande, tendo sido abandonado pela mulher, se agarra ao filho como razão de sua vida, transformando o amor em sentimento de posse. O menino é tratado como uma criança doente(sem o ser), sendo exageradamente protegido, sufocado. Nem ao menos brinca ao ar livre ou frequenta uma escola; seu próprio pai "cuida" de seus estudos, chegando ao cúmulo de ler, para o menino dormir, um livro de ornitologia (parte da biologia que estuda as aves)!

Considerado doentio, frágil, incapaz mesmo de ser criança, passa seus dias lendo, estudando, recluso, preso como um passarinho. Com uma vidinha triste como essa, e sem ter contato com outros seres humanos que não seu possessivo pai, era inevitável não se encantar com o recém contratado do sisudo Mr. Brande: o jardineiro José, além de jovem, robusto, vigoroso, alegre e bem-humorado, era atraente e cheio de vida. Vida a qual lhe parecia ser negada, vida em plenitude. A felicidade, o otmismo, a doçura, malgrado sua simplicidade e pobreza, são um íma para o pobre menino rico. E o pesadelo de Mr. Brande toma forma: seu adorado filhinho começa a admirar, a amar outra pessoa. Não apenas a ELE. E, pior, é correspondido.

Antes que alguma adepta do "yaoi" se assanhe, aviso: o amor que se desenvolve entre os dois NÃO é de cunho romântico. Não se trata de relação homossexual, aqui. Nicholas vê em José tudo aquilo que ele queria ser: vigoroso, auto-suficiente, alegre e livre. E José vê em Nicholas um irmãozinho mais novo, vítima de um amor sufocante, que necessita de libertação, de conhecer a vida. A relação entre ambos obviamente é proibida, sendo Nicholas rico e filho do patrão, e José um reles empregado, pobre e rústico (e a história se passando no início do século XX faz com que a separação social seja ainda mais intransponível). Cenas divertidas, ternas, deliciosas, se passarão, até o sol deste dia luminoso ser bloqueado pelas maquinações de homens mesquinhos, pelo preconceito que tão linda relação desperta, pelo orgulho ferido de um pai doentiamente egoísta que não mais se vê no centro do mundo de seu filhinho.

Hoje, que se fala tanto em homofobia, se discute tanto sobre aspectos de preconceito, este livro deveria ser mais conhecido e considerado. Não só pela linguagem acessível, que muito com isso colabora, como pelo enredo, é muito atual.

Tenho o sonho (gostaria de dizer "plano", mas a julgar pelo ritmo de minha vida - já me sinto um tanto culpada de aqui estar escrevendo, ao invés de estar cuidando de meus afazeres - é mais "sonho", mesmo) de algum dia quadrinizar essa história. É, eu tenho essa vontade com outras histórias também... ai ai. "Crime e Castigo", "A Dança dos Ossos", "Werther"... me aguardem, um dia me aposento.























quinta-feira, 18 de agosto de 2011

"Voltar para a casa à noite: um teste!"

Este trecho foi retirado de um livro que acabei de ler, "O resgate da autoridade em educação", de Gérard Guillot, professor de Filosofia da Universidade de Lyon, França - supostamente um livro para educadores, porém recheado de ponderações extremamente interessantes para todos. Quer um exemplo? Veja se o que vem a seguir não serve para TODOS que vivem com alguém, seja parceiro amoroso, amigo ou família:


"Voltar para casa à noite: um teste!
Após um dia duro de trabalho, você se encontra com os seus, por exemplo, com seu parceiro, e lhe diz imediatamente (o que não o surpreende muito!): 'Que dia: pior que o normal!' Pergunta-lhe como a descida ao inferno do pior pode ser tão abissal! 'Você não acreditar no que me fez o 'Fulano' hoje!' De fato, há frequentemente um (ou vários!) 'Fulano(s)' em um período de vida profissional!(...)
Quando nos comportamos desse modo, o que estamos fazendo na realidade? Damos a entender à pessoa amada que o mais importante, imediatamente, no momento do reencontro, é despejar o negativo acumulado; você me dirá 'não se vai a cada noite ficar extasiado de encontrá-la, ela quase 'faz parte da mobília da casa'! E no entanto, é preciso escolher. Com efeito, essa atitude transforma o outro em 'lixeira afetiva'... E depois ficamos espantados que a noite não tenha sido boa, que a relação se destrua!(...)

Evocar seus problemas é legítimo, mas um pouco mais tarde e serenamente! Nem sempre sabemos 'fechar as portas' das situações(...).

A dependência do negativo leva-nos a não ver os encontros com o positivo, aqueles que dão alegria."

(páginas 111 e 112)



terça-feira, 16 de agosto de 2011

Mondo cane... ah, sim, é o Rio de Janeiro, só isso!

Terça-feira, duas e meia da tarde. Indo dar aula particular de japonês.

Eu pago uma passagem de metrô com uma nota de 10 reais. Para não fugir à regra, a funcionária me pergunta se tenho 10 centavos. Eu procuro (mesmo!): não tenho. Anda rica, essa minha carteira, só dá moedas de 50 centavos e de um real. Uau. Ela aceita, fazer o quê?, e me dá o troco.

Dou uns passos - veja bem, UNS PASSOS, ainda me encontro a anos-luz das roletas -  e vejo que não há R$ 6,90 na minha mão, e sim R$ 4,90. Volto ao guichê :
- Desculpe, você me deu 4,90 de troco, mas eu te dei 10.
- Oh, senhora, a senhora esqueceu uma nota de 2 aqui...o rapaz que estava atrás de você PEGOU.
- ...como é?...
- Ele pegou logo, e saiu...
- ...

Holy... FUCK.


Negócio tá feio por aê. E não falo de grana, não.




Não concordo, mas ENTENDERIA se fosse 20 "real", 50 "real"... um roubo, burra eu. Mas "dois real"? Isso não é mais questão de bolso, minha gente. Cês sabem que não. Ainda mais em se tratando do Rio, a Terra dos Exschxxxxxpéertosh.

domingo, 14 de agosto de 2011

A blog is born!

Bem, aqui vou eu para mais uma tentativa de ter um blog. Confesso que um misto de preguiça e falta de tempo sempre foi o culpado pela morte de uns dois ou três que tentei manter. E curiosamente fui escolher um dia de limpeza na casa para fazer isso (fuga dos afazeres domésticos detected). É triste fazer limpeza na casa em pleno domingo, mas quando se trabalha de segunda a sábado, não há opções... ando procurando uma faxineira, contudo o diminuto tamanho de meu lar, bem como a preocupação com minhas gatinhas Pandora Malvadeza e Pingo Sobremesa, exigiriam minha presença aqui quando do serviço da profissional. Já que isso é impossível, por enquanto (a menos que encontre uma que o faça em pleno domingão!) esse odioso ofício ficará a meu cargo, aff e aff.

Por isso retiro-me, indo já colocar umas latinhas de Brahma no congelador, para poder me recompensar mais tarde por este sacrifício dominical. Até mais ver.